segunda-feira, 24 de setembro de 2012

A Tia Patrocínia

O Reboliço visita a tia Patrocínia quando Deus quer. É quando pode, e de cada vez parece-lhe pouco. A tia Patrocínia vive num prédio do centro de Lisboa. É um prédio onde não mora quase mais ninguém e os que lá estão vão de passagem ou são os homens das obras, que andam a arranjar aquele e os prédios vizinhos. "Dou-lhes qualquer coisinha," diz a tia Patrocínia, amparada pelo corrimão de ferro pintado há uns dias, "Coitados, andam nisto dias inteiros, trabalham muito, vá, uma cervejinha." Ficam-se-lhe as garrafas das minis entre os vasos de manjerico, agora alinhados na plataforma do andaime, com a hortelã e a romãzeira. "Poooois, não vês? Então, vieram-me trazer a arvorezinha, e eu cuidei dela. Agora, tem aí uma romã, já viste? Dá graça." O Reboliço diz à tia Patrocínia que na casa dela só há coisas boas. "É verdade," responde-lhe a tia. "A única ruim sou eu," e ri-se de sorriso e olhos a brilhar.
Dá aos pombos, aos pardais, aos gatos, aos cachorros e a quem, de humano, lhe apareça em casa, quase sempre sem aviso. "Ainda hoje tinha pensado em ti, vê lá. É verdade. Fiz uma sopinha, já estava à tua espera," vai dizendo, enquanto serve duas, três conchas do caldo denso, couves e nabiça, cenouras tenras, que não a deixam mentir.