domingo, 11 de novembro de 2012

(Post dedicado)

Uns versinho bem ingeno
Vamos agora estudar,
Não dão tese de poética,
Só cultura popular,
Ou seja, matéria inculta,
Bacharel quer Bachelard,
E sem Lacan, nem lá com
Derrida, vão nos negar
A teorética das bolsas
De estudo da capitar!
Só pra ver luta de classes
Com monóculo de Marx
É que servem as estrofe
Deste rasteiro arraiá,
Uns versinho sem ingenho,
É o que pode rascunhá
O povo plebe proleta
Sem nós, os intelectuá,
- O reitor vai tomar posse!
Vamos todos se apressar,
Nossa pesquisa científica
Será discurso copiá,
Deixe o poeta com nome
De passarinho banar:
Quando ele voa, não canta,
Se canta, deixa de voar.

(Patativa do Assaré diz que não faz verso, mas escreve na mente)

(o vôo canta sem voz)

(os ingênuos querem o engenho; os gênios esqueceram-no)

(na terra cultiva o vôo de pisá-la)

(mais que a virtude dos pássaros
e mais que o alado pesar:
quando lhe tiram o céu,
voa o vôo de cantar)

poesia não faz verso, escreve na mente

(Pádua Fernandes, que o leu aqui, aos 4'19''.
O palco e o mundo, Lisboa, & etc, 2002, pp. 41-42.)