- Ai, Reboliço, está tudo tão lindo...
- Está o quê, Luca?
- As flores das amendoeiras. Que pena não estares mais perto para ver isto. Olha que até eu - como sabes, não sou de me deleitar com árvores e flores -, até eu me comovo. Também de pena de ti.
- Mas não tenhas penas, Luca. Sabes?, viajo todas as manhãs por dentro de uma mata gigante: vou observando da janela para fora e já as descobri, contei-as. Uma, duas, naquela curva outra, atrás, escondida que quase não a via, está outra - mostram-se mais, mostram-se melhor agora, com as flores. É como se acenassem para quem anda na estrada. São poucas, seis ou sete amendoeiras a bordejar os caminhos de Monsanto, Luca. Mas cada uma mais linda que a outra.
- Olha... Eu a pensar que daí de onde estás só se via betão e betão e betão.
- Muito betão se vê, é verdade. Mas este passeio é bonito. A mata, estes dias, tem um chão muito sossegado e verde e fofo, por conta das gotas pequeninas da chuva. Faz silêncio, não sabes? E passo por ela antes de passar para o outro cenário. Depois dos eucaliptos e das árvores grandes, das azedas engelhadas que ainda não acordaram porque confundem com a noite as nuvens, das cascas dos troncos, vejo a pedra do aqueduto, jogadas as mãos dele ao chão, e vejo o ferro da ponte, jogadas as mãos dela ao ar, e os troncos passam a prédios (mas intrometem-se tanto, as azedas).
- Pois ainda bem, Reboliço. Ainda bem que vês tudo isso.
- E mais o rio.