quem espera o peso do sangue em nossos olhos, o ritmo
dia a dia pedra de nossos membros, o verão que não
mudará a nossa casa, a violência que espalhará
fumo no fogo das nossas máscaras, tudo isto,
a navalha do meu corpo, a corrente da praia
que tanto reconhecias, perguntas o caminho que
ousei desde menino, que se gravou em minhas mãos
e as faz tremer tristes e diferentes.
Quem acompanha a dor que escolhemos, o espaço que
ocupamos, a maneira de dizer coração,
a imagem quebrada de uma igreja,
o canteiro do jardim, lá atrás, muito lá detrás
vens perguntando quem acompanha o nosso rosto,
ele, ele que não amou ninguém, que não amou ninguém.
(João Miguel Fernandes Jorge, Sobre o mar e a casa, com pinturas de Pedro Calapez, Lisboa: Europália, 1991, p. 8. Daqui - obrigada, Inês.)