O Reboliço sai do aeroplano e fareja, fareja muito. Esta terra tem um cheiro. Um cheiro será a borracha, será à fruta que o sol e a humidade amaduram? O Reboliço fareja o ar, fareja o chão, as pessoas que passam, as pessoas que páram, cães como ele. De longe, a aterrar, viu o sol em bola brilhante reflectir-se nos espelhos dos prédios de Brasília. Garante que viu uma igreja de Niemeyer com muitos braços levantados ao céu; garante que viu os bairros arrumadinhos, o mato, o paúl e a água. Viu tudo como imaginava quando a M. lhe contava de Brasília. Viu tudo como se lembra de ter visto nas capas de um número da Conhecer, revista que a editora Abril vendia em Portugal nos idos anos de há quatro ou cinco décadas - mas ali eram desenhos destes desenhos. Agora o Reboliço viu, garante que viu, com os olhos que este mesmo sol há-de ver fecharem-se, os desenhos fora do desenho.