domingo, 21 de abril de 2013

O Reboliço e a Luca pousam no parapeito da varanda as patas da frente. Deixaram a cozinha aos latidos dos três cães dos quintais vizinhos e à guincharia de gatos e folhagem maltratada, foram testemunhar.
- Pois se o Janeiro já passou, Luca.
- Digo-te que aquilo é arrufo de gato e gata. Quase em nada se matavam, tu não viste?
- Bem os ouvi. Mas era luta de rivais.
- Ateimo que não, Reboliço: ouves como este mia de choro? É gata ou gato com cio, que o outro, nem meia. - O gato que ficou estira-se sobre um muro, parece dolorido, não cessa o lamento. Espaça cada miado com o cerrar dos olhos, alongar de focinho e agitar de orelhas. A cauda, para um lado, para o outro, denuncia a ira que o choro quer disfarçar.
Vai-se acalmando a selva das traseiras dos prédios. Entre as folhas altas da couve, os jarros balançam pouco; os cataventos de plástico, são cinco, que o vizinho dispôs, nos extremos de cinco canas, ao longo do quintal do rés-do-chão, rodam devagar, todos no passo igual e lento ao ar morno da tarde.