segunda-feira, 13 de maio de 2013

"E eu penso assim, 'São quatro e meia, falta meia hora para o Sr. José Candeias', e fico bem."

O Reboliço acorda do primeiro sono e põe-se a ouvir o rádio da Antena1. Ouve a Dona Maria Luísa: tem 85 anos e dorme o que dormem as pessoas que têm 85 anos e acordam antes ainda de se começarem a mexer as formigas e as abelhas e os pássaros. "Então não se recorda de mim, Sr. José Candeias? Olhe, lembra-se de lhe ter eu dito que ia numa excursão à Terra Santa?" "E foi, Dona Maria Luísa?" "Pois fui, Sr. José Candeias, fui lá, vi tudo, tudo, tudo." "Então e diga-nos lá de que é que gostou mais, Dona Maria Luísa." "Olhe, Sr. José Candeias, vou dizer-lhe que aquilo de que mais gostei foi da oliveira, aquela onde Jesus esteve quarenta dias, sabe? Estavam lá dois sardões a brincar - ai, gostei muito." O Reboliço escuta, imagina a Dona Maria Luísa, de Barcelos, cabelo arrumado, os sapatos de salto a acusarem os joanetes, o braço dado a outra companheira de excursão, a ampararem-se as duas uma na outra nas benditas terras, e, quando dá por si, fala já o Manuel Beirão, operário na obra do canal do Panamá, português a trabalhar numa empresa espanhola, "que ouço todas as noites, aqui pela Internet, e gosto muito, Sr. José Candeias." É sonho que sonhas, Reboliço, com tanta gente dentro?