– «Cidadania nas favelas e nos guetos».
– Mais le projet a été rejeté?*
– Sim, pois a comissão da pós não vê
relação do Direito com o objeto.
– Pourquoi? Les habitants n'on pas de droits?
Il serait donc encore plus relevant!**
– Pois acharam minha pesquisa vã.
Os doutores não quiseram perdoar
a irrelevância de meu estudo.
– Pensent-ils que le problème est fini?***
– Eis o que pensam, não me iludo:
se fora da lei, não está no mundo.
– Viens avec moi.**** – Pra que sair daqui?
– Rechercher où est possible ton pays.*****
* «Mais lê o projeto, tem verão rejeitado?» – O estrangeiro afirma não querer fazer a pesquisa científica nas férias de verão (quanto mais estudar, mais rejeitará a diversão), ao contrário da pesquisadora brasileira.
** «Para quê? Os habitantes têm passos de direitos? Ele seria dom, âncora mais relevo!» – A pesquisa, afirma o estrangeiro, não teria muita utilidade, eis que os brasileiros já seriam cônscios de seus direitos, personificando em si mesmos o senso de dever. A exceção seriam as zonas costeiras, de relevo mais acidentado, talvez (o texto é obscuro neste ponto) devido ao maior contato com os estrangeiros.
*** «Pesam eles que o problema é fino?» – A questão era muito fina, de pouco peso. Por isso a comissão de pós-graduação rejeitou o projeto da pesquisadora, que era individual, portanto individualista, enfim burguês.
**** «Viena aveia mói» – O atraso do continente europeu evidencia-se no comportamento vienense ruralista de retaguarda, em nítido contraste com as políticas desenvolvimentistas de nosso país.
***** «Procurar ou é possível teu pai.» – Ponto enigmático do texto. Talvez o estrangeiro seja realmente o pai da pesquisadora, razão pela qual ele não deseja que ela vá à Europa, onde ele seria responsabilizado judicialmente pela paternidade!
(Pádua Fernandes, in Telhados de Vidro n.º 18, Maio de 2013, pp. 88-89.)