segunda-feira, 28 de abril de 2014

Oh...

NA MORTE DE UM POETA

Não sei se nos seus poemas
se moviam figuras a quem
aconteciam coisas

como leio nas primeiras
notícias, mas sei que a todas as figuras
acontecem as mais variadas
coisas como

morrer

e ninguém como os poetas para o saber

estou, porém, em bruxelas, quando
isso acontece a um poeta do meu país,
a milhares de quilómetros de distância

alguém que, como eu, caminhou no continente
que daqui parte e que o amou como à arte
de fazer versos - e somos dois

somados a uma outra ideia de poeta:
alguém a quem acontecem coisas
como às figuras dos versos

coisas como

viver para escrever
como se escrevendo
se adiasse a morte

e dessa arte só restasse
uma outra morte: a de amar.

(Ricardo Marques, Bruxelas, 27/04/14. 
Muito obrigada, Ricardo.)