O Festival Poesia & Companhia lança a pergunta. O cão do vizinho António, sempre atento aos tópicos de pertinência, aprontou-se a responder. Isto é, a perguntar também.
(Logo mais, hoje de tarde, conversa-se sobre o tema na cidade velha, em Faro.)
Perguntei-me certo dia,
Depois de bem mal dormido,
P´ra que serve a poesia,
Se a tudo dá mais sentido.
Faz as mulheres mais bonitas?
E torna o céu mais azul?
E transforma esparto em fitas?
E fitas de seda ern tule?
Faz das estrelas diamantes?
Torna belo o que está mal?
E põe tudo como dantes,
Quando já nada é igual?
(Faz da singela silarca,
Depois de entrar em castelos,
Estando à mesa do monarca
Rainha...dos cogumelos?)
Decidi.-me a experimentar,
P´ra que serve a poesia,
E a quem queria namorar,
Escrevi versos noite e dia.
Pensando chegar primeiro,
A coisa não correu bem :
A moça tinha parceiro,
Lá vim p´ra trás com desdém.
Com um olho arroxeado,
Cabeça um pouco a zumbir,
Andei assim, devastado,
Sem comer e sem dormir...
Troquei as noites por dias,
E a água pelo vinho,
E todas as companhias,
Pelo meu andar sózinho.
E quere-me cá parecer,
Que depois daquele dia,
Fiquei assim sem sabêr,
P´ra que serve a poesia...
A.M.F.
10-III-2015
10-III-2015