domingo, 29 de março de 2015

"Mas o mais enternecedor de tudo são os cães" (uma década inteira)

O Reboliço levantou-se ao chamamento dos canários: o Juninho, mais expedito, deu primeiro pelos primeiros raios de sol; depois a Laranjinha e o Branquinho. Espreguiçar espreguiçar espreguiçar, bocejar, bocejar, bocejar, acertar os relógios. A Ria, ao fundo da janela, enfeitava-se de luz e de azul - o Reboliço olhava e deixava que o calor lhe entrasse nos ossos. Os dias mais longos, a Primavera, a Páscoa a chegar: a memória levava-o, sem esforço, até dez anos antes. Ao dia em que as Cartas começaram a ser escritas. Sem surpresa, mas com o acaso do seu lado, reencontrou a edição em que pela primeira vez leu as de Daudet, lá para 1980, vertidas por Ricardo Alberty e ilustradas por Georges Beuville. E ali se viu, reconfigurado, ao fundo da página 13. Nem de propósito: comemorou.