MOVENDO A MÓ
Evidentemente, apenas preciso
de comparar o silêncio do céu
com o ruído da terra.
Evidentemente, nenhum barulho
das coisas visíveis corresponde
ao movimento dos astros ou
dos anjos.
Mas os planetas, cujo círculo
se desloca para o céu da boca,
rangem, como se fosse um gemido.
Lembram-me um corpo a cujo abraço
se regressa, por fim, como o trigo
deitado na roda do moinho:
e onde reconheço o calor das mãos,
o murmúrio do vento nos ouvidos,
o espasmo do amor no cansaço da pedra.
(Nuno Júdice, Meditação em Ruínas, Lisboa, Quetzal, 126.)