quarta-feira, 30 de março de 2016

Janis

Que nome é esse, Janis?, interroga-se o Reboliço. Lembrou-se dela a propósito de um Bobby McGee que com ela entrou num dia de chuva na boleia de um camião, em Baton Rouge (coisa de esborratar e passar a mão suja, encarnada, sobre os jeans já gastos, ou a suja bandana encarnada) e seguiu para o Kentucky antes de ir para Oeste à procura do sol e de um lar - achou-o em Salinas, perto do Pacífico. Vai uma mulher à boleia com um homem e cantam, eles mais o camionista, os blues de alguns dias de estrada - I was holding Bobby's hand in mine. Vai a mulher, segue viagem e "deixa-o escapar", que achou - o homem achou - o lugar que procurava para assentar. Em 1970. A verdade é que quem ficaria a residir e se furtaria à viagem seria uma mulher. Foi assim que Kris Kristofferson imaginou quando escreveu a canção: Bobby foi a mulher que lhe aqueceu as noites, soube dos seus segredos, e, "Bobby clapping hands" ao som das canções que ambos cantaram com o camionista, recusou seguir viagem. Na versão de Janis (Janis, que nome é o teu?), a de uma mulher sobre um homem, a liberdade - não ter nada a perder - não vale nada se não for livre, se não for de graça; na do homem sobre uma mulher, o nada nada vale, mas é de graça. Há na escolha da mulher a possibilidade de um preço a pagar pela liberdade, que passa a ser diferente de não ter nada a perder. Quando o homem canta, porém, é um dado adquirido que a liberdade não tem qualquer custo. 
(E a propósito de George, nome certo de cão.)