Poeta poeta sem bruxedo
Três dias depois do naufrágio
Moinho moinho de neve
As costas estão carregadas de nuvens
Todos vós sois grifos
Vosso coração sangra pelo nariz
Mas os pássaros são armários repletos
Os pássaros que no céu estão mais quentes que as mãos
Cala-te rouxinol ao fundo da vida
Eu sou o único cantor de hoje
Dir-te-ei mil vezes
Que minhas costas estão carregadas de nuvens
Mas tenho comigo a flauta mágica do querubim selvagem
(Vicente Huidobro, Natureza Viva, tradução de Luís Pignatelli, Lisboa, Hiena, 1986. Obrigada às Edições Averno)