quinta-feira, 13 de outubro de 2016

Três vivas para o Senhor Dylan!

(O Reboliço republica a sua versão de "Long and Wasted Years," belíssimas, tempestuosas palavras do mais recente prémio Nobel da Literatura)

Passou tão longo tempo
Desde que nos tivemos amor e almas verdadeiras
Houve um dia, um dia breve, em que fui o teu homem

Ontem à noite ouvi-te falar enquanto dormias
A dizer coisas, minha querida, que não deverias
És capaz de ter de ir presa, um destes dias

Haverá um lugar aonde possamos ir?
Alguém que possamos visitar?
Talvez seja contigo igual ao que é comigo

Não vejo a família há vinte anos
Coisa difícil de entender, às tantas já estão mortos
Perdi-lhes o rasto desde que perderam a terra

Agora ginga, querida, berra e dança
Já sabes do que se trata
Seja como for, o que fazes aqui ao sol?
Não sabes que pode dar-te cabo da moleirinha?

O meu inimigo afocinhou no pó
Caiu morto na estrada e perdeu o brilho
Foi brutalmente atropelado, ficou espatifado
Morreu em desgraça, tinha um coração de ferro

Uso óculos escuros a tapar-me os olhos
Há ali segredos que não consigo ocultar
Anda cá, minha querida,
Olha, e desculpa lá se te ofendi, sim?

Dois comboios vão lado a lado, quarenta milhas de distância
Descem a linha do Oriente
Não tens de te ir embora
Só vim ter contigo porque és minha amiga

Acho que enquanto estava de costas
Atrás de mim todo o mundo ardia
Já passou algum tempo
Desde que atravessámos aquele tão longo corredor

Chorámos era uma manhã gelada e fria
Chorámos porque se nos despedaçava a alma
Lá se vão as lágrimas
Lá se vão estes longos, anos perdidos

(Tempest, 2013)