sexta-feira, 16 de junho de 2017

A eles, a eles!

O Reboliço sempre se espanta com as qualidades da tecnologia - as dos bichos como ele não o surpreendem tanto, se tanto o encantam. Quando soa o telefone móvel e a chamada é de um determinado dono, toca como o grasnar de um pato, e soa alto, para se distinguir de outros que liguemNum dia sossegado, havia uma visita para o almoço e trouxera um companheiro, o Iron. O Iron é um cão de caça, dinamarquês grande, como lhe chamam. É jovem, pêlo cinza escuro, cor de ferro, elegância pura de corrida, treinado em cheiros e sons de bicheza de mato. Estava a família muito descansada a terminar à mesa o cafezinho e o Iron refastelava-se, pacífico e obediente, dormitando no chão da sala do apartamento urbano, instalado na enfiada da aragem que a varanda, àquela hora, deixava entrar. No meio da paz, o pequeno aparelho de comunicação anima-se e grasna um forte grasnar. Foi um microssegundo: as patas do Iron erguidas, o bicho disparado, seta direita, cauda rígida como o horizonte, orelhas em riste, faro no máximo do regulador, correu cada canto da casa,  pisou cada mosaico, parou à porta de cada divisão, querendo divisar - o pato.