quarta-feira, 9 de novembro de 2005

Lowry, once more

Olha, olha! A Lagarta anda a levar o Lowry por maus caminhos... É muito bom saber que o autor que mais acarinhamos passa entre outras mãos, afaga outras almas (é afagado por outras almas). Aqui pelo moinho, o Lowry anda quase sempre de sorriso sarcástico nos lábios e garrafa de gin na mão. Ou será grappa? Ou mescal?

Numa interessante edição portuguesa de material epistolar e crítico sobre Under the Volcano (boa, querias um link para um livro português publicado pela Hiena em 91! Lírica...), Pedro José Leal, o tradutor (e, presumo, organizador da edição) escreve na cronologia introdutória que October Ferry to Gabriola é uma "selecção e «restauração» de um manuscrito com cerca de 700 páginas em estado embrionário" e, logo a seguir, que "os resultados são decepcionantes". Pois bem, será decepcionante para quem não entenda Lowry, a sua teimosia e a perplexidade (às vezes, sim, o atabalhoado) de um autor perante a força da sua escrita. Uma vez, ainda no liceu, tive uma crise terrível por não reconhecer como minha a escrita que sem dúvida produzira e admirava. Talvez por isso tenha a veleidade de pensar que o entendo. Gabriola é, como a nascente de "The Forest Path to the Spring", como o vulcão, como a cidade americana vista desde a Itália em "Strange Comfort Afforded by the Profession", um destino, um final de viagem aonde se custa a chegar.
O epitáfio que Lowry escreveu de si mesmo é delicioso (se me recordar, deixo-o aqui em breve, tenho o livro noutro lugar).