"Ao contrário do que é costume dizer, reencontros, ao fim de muitos anos de separação, são, em tantíssimos casos, mais fonte de ilusões perdidas do que de redescobertas sentimentais. Isto de pessoas muda muito e mesmo quem muito amámos raramente regressa tão amável como outrora. Ou mudámos nós ou mudaram eles ou mudámos ambos e não há auroras futuras para crepúsculos passados." É assim que começa a crónica de João Bénard da Costa do último dia 30. Li-a nesse domingo e tenho pensado nela a propósito de um texto de Süskind a que já aludi antes por aqui. Mas agora regresso a Bénard e vejo quanto é possível discordar deste início - vejo, aliás, como ele mesmo encontra modo de discordar, ao levar o assunto, ao longo da crónica, para a perda do rasto e o reencontro com os livros. Como com todas as crónicas deste grande homem, como com todos os discursos que lhe ouvi (preparados com minúcia, como nos últimos dois anos nas comemorações do 10 de Junho, ou de relativo improviso, como no início de cada ciclo da Cinemateca Portuguesa) encanta-me escutá-lo.