quinta-feira, 24 de novembro de 2005

Papagaio de papel

Saiu da escola, aliviado por sentir nas costas o peso da mochila e dos livros já fechados. Pôs-se a caminho de casa. Pensou na largura da avenida e nas fases em que, hoje, a atravessaria. Primeiro, as passadeiras à direita. Olhou para os carros que vinham, indiferentes a si como estava indiferente a eles e, quando nenhum se aproximava, deu os passos largos a tentar pisar só as bandas brancas da zebra. No final, o lancil de pedra enquadrava a relva, amolecida a terra depois da chuva. Decidiu seguir a pisá-la até à outra passadeira, mais adiante. Só já a meio do caminho se apercebeu que não fora ele quem decidira, mas um pequeno chapéu de chuva aberto, fixado com duas varetas na terra mole e com o tecido amarelo-vivo a esvoaçar, as pontas já só cosidas no topo do bastão. Era aquele amarelo que o chamava, por cima do verde alegre da relva. Quando lhe tocou, a sentir o tecido, esqueceu-se do branco sobre o cinzento do asfalto e do caminho de casa. Visto de trás, pelo espelho retrovisor, era quase só uma mochila quadrada com pernas fininhas e uma grande roda amarela a enquadrá-las.