Nem de propósito: quando se acumulam as perguntas sobre a sua identidade, aparece o cão do vizinho António e faz o Reboliço recordar-se dos dias no Moinho em que o avô ainda vivia.
Todas as manhãs, cedo, mal a avó abria a porta do quarto, levantava-se da cozinha onde passara a noite, sobre os ladrilhos frescos se era Verão ou aninhado junto ao borralho, no tempo frio. Espreguiçava-se, dava o salto pequenino para passar o degrau que separa a cozinha do resto da casa, atravessava a sala e ia sentar-se, sossegado, sem latir nem nada, mesmo no vão da porta do quarto do avô. Até que ele lhe desse licença, não se mexia. Tardava pouco: "Preguiçoooooso... Anda cá, Preguiçooooso." A cauda dava em abanar-lhe, erguia o rabo do chão e avançava, patinha ante patinha, até à beira da cama do avô. Lá perto, só subia o focinho. Nunca se empoleirava nos lençóis nem se chegava muito às mantas. Esperava que o avô alcançasse a bengala, ainda adormecida ao alto, entre a cama e a mesa de cabeceira, e com ela lhe coçasse o lombo. Aquilo sabia-lhe pela vida toda. Hoje, ouve a Tiaga e pensa "Ah, se eu naquela altura soubesse ronronar...".