sábado, 15 de julho de 2006

O Nada

O Reboliço passou a tarde esticado - estirado, deitado ao comprido no chão, a imitar a Tiaga. Queria estar imóvel, deixar completamente de sentir. Mas, quanto mais o calor lhe apertava o pêlo junto ao corpo, colando-o com um suor odioso e pouco fluído, mais o coração lhe batia e a língua obrigava a boca a abrir-se, no arfar canino e irritante. É isto o Nada, pensou. Isto de não ser além de corpo, sangue a pulsar e gotas de água com sal. O Nada do pensamento, o Nada das ideias, a aniquilação toda da vida espiritual, a...
Soa o telefone e a Fatinha diz: "Anda já, os músicos já chegaram. Deixa-te de ronhas."