sábado, 6 de outubro de 2007

De onde vêm os raios de Júpiter?

Lembras-te, irmão, de uma tarde há muitos anos, na clareira de uma mata de pinhal, estarmos acordados ao calor, a imaginar como seria o infinito além da copa daquelas agulhas? Estaríamos com o pai e a mãe, acabados de almoçar uma arrozada com carapaus fritos e salada com alface, cenoura e beterraba. Eles os dois estirados cada um na sua cadeira articulada, à sombra dos pinheiros, e a gente, mais a mana, não sei já se em cima da manta retalheira onde comêramos, se sentados no banco do carro – parece-me que recordo estar de costas, a olhar para o céu muito parado, as copas sem movimento num dia de Verão. “Já imaginaste, se...,” e fomos por ali afora. Dizes-me que ficaste tonto. Tonto? “Sim, uma cena horrível – pensar que está o mundo, depois a galáxia, o universo, essas coisas, e o que é que vem depois? Fiquei tonto.” Se o meu pensamento teve algum nascer localizável, foi naquela hora. Nunca deixei de lembrar a sensação aberta de haver alguma coisa que não se via, que estava algures num sítio fora dali, que teria de ir ao seu encontro e ser esse o desafio que me abriria caminho ao resto.
(A ler Forests e, nele, Gianbattista Vico sobre as clareiras e a origem do pensamento humano.)