Na véspera de Natal, o Reboliço amanheceu a ouvir a rádio. Sonhava que era um marinheiro num navio das Descobertas, vindo de lugares diferentes, a regressar às costas lusitanas (aí por Sines, ou outra areia). Quando abanou a cabeça e coçou com genica, uma e depois a outra, as orelhas, ainda ouviu: "Venho da ilha dos vidros, / Da praia dos diamantes; / Ando no mundo perdido / Pelos teus olhos brilhantes. // Pelos teus olhos brilhantes, / Pelo teu rosto de prata. / Ter amores não me custa, / Deixá-los é que me mata." Voltou a abanar a cabeça, mas em desaprovação daquela moral duvidosa.
À noite espreitou a igreja. O madeiro deste ano na aldeia não era um, mas muitos madeiros pequenos, espalhados em desordem pelo adro. Não o chamavam. Rodeou o fogo e esgueirou-se entre os pés dos homens, em pé ao fundo da igreja, acotovelados junto à porta. Nos degraus do altar, cantava um coro de mulheres: "Entre as portas da igreja / Está uma mulher cosendo. / Está cosendo a camisinha / Para o Menino em nascendo." Ficou a pensar que os gerúndios, em sendo assim cantados, até não parecem mal.
À noite espreitou a igreja. O madeiro deste ano na aldeia não era um, mas muitos madeiros pequenos, espalhados em desordem pelo adro. Não o chamavam. Rodeou o fogo e esgueirou-se entre os pés dos homens, em pé ao fundo da igreja, acotovelados junto à porta. Nos degraus do altar, cantava um coro de mulheres: "Entre as portas da igreja / Está uma mulher cosendo. / Está cosendo a camisinha / Para o Menino em nascendo." Ficou a pensar que os gerúndios, em sendo assim cantados, até não parecem mal.