segunda-feira, 29 de setembro de 2008

Lembrança brevíssima

Escreve o Pedro Mexia que "alguém lembrou que ele não deixou nenhuma grande cena de amor." Eu, então, assim que ouvi dizer "morreu o Paul Newman," vieram-me à ideia duas delas logo, no Torn Curtain. Primeiro (1'08'' de filme), no verde monte fantástico, algures em Berlim Leste, quando o físico Michael Armstrong leva a mulher pelo braço para lhe contar que é um espião e evitar que ela deite a perder o plano de espionagem. É quase inacreditável como, dos escritórios assépticos e da lógica científica, num cenário que minutos antes víramos em ruínas cinzentas através de uma janela, Hitchcock passa para o fulgor de uma cena pastoral (veja-se esta foto) e mostra, de longe, a conversa do casal. Quando chega ao grande plano, a emoção passa-se toda no rosto dela (Julie Andrews), é verdade - mas antes disso é o corpo de Newman, os seus gestos à distância, que nos dão o que precisamos de saber. É uma bela cena de amor. A outra é mesmo no começo do filme, aí uns 3 minutos rodados. Ele e ela no meio de cobertores e casacos, na cama num camarote, o navio em alto mar, sem aquecimento, o amor a servir-lhes de comida e agasalho acrescentado às mantas. É outra bela cena de amor.