sexta-feira, 13 de agosto de 2010

Do céu dos cães

- Rafa, vens cheio de fuligem, cão!
- É que me cremaram, não sabes, Lobito?
- Ah, sim? A mim enterrou-me o dono num lugar longe da casa, mas o Reboliço achou onde eu estava e esteve ali uns dias antes de eu vir para este céu, a acompanhar-me para eu não estar muito tempo sozinho.
- Olha, eu conheci o Reboliço. Ainda passeei umas vezes com ele na praia. E que tal se está aqui?
- Não é mau, não senhor. Não sentimos fome nem sede, por isso não temos que nos preocupar com comer ou beber. Também não temos de obedecer a dono nenhum, e isso é mau e bom. Não temos trelas nem muros nem correntes, podemos saltar as nuvens que quisermos, o tempo que quisermos.
- Sou capaz de me habituar...
- Não tens grande remédio, Rafa.
- Tenho é pena do dono, o meu Fraga. Ele já tinha levado lá para casa uma flausina (chamo-lhe assim, mas era divertida, a bicha), não fica desacompanhado. Mas o que eu gostava, quando ele chegava a casa e me fazia festas! E nunca, por nunca desligou a televisão, sempre preocupado com que eu não me sentisse só enquanto ele ia trabalhar. Um amor de criatura. Há gente assim, coitaditos...