O pequeno Matias agachou-se, o corpo a fazer-lhe um quatro e as mãozinhas arrumadas cada uma em cima da sua coxa. Os pés, calçados nas botas novas, assentavam em duas pedrinhas da calçada do chão que o avô assentara. À frente dele, no banco baixo - que os joelhos e a gota já não o deixavam agachar-se como dantes -, o avô apontava: - Olha aquela, Matias, a levar sozinha a folha da parreira. - Pondéquelas vão, avô?, disse ele, sem levantar os olhos do carreiro de formigas e com a voz embrulhada de ter o pequeno tronco, mais a cabecinha, metidos para baixo. - Vão para casa. Aí, o Matias ergueu a cabeça, os olhos muito atirados aos olhos do avô, a interrogar. - Dormem no quarto do Matias? - Não, riu-se o avô. - Elas têm a casa delas, cada uma o seu quartinho. Anda cá, que o avô mostra-te. Levantaram-se os dois no mesmo impulso, os joelhos jovens e os joelhos habituados, e no mesmo segundo também agarraram a mão um do outro. Os passinhos do pequeno iam à velocidade dos espaçados passos do avô, que conduziu até ao montinho de terra a meio da rua, quase em frente à porta da cozinha. Por baixo da lateira de vide, as folhas jogavam com o vento o jogo da luz, as pedras cinzentas tornavam-se douradas-cinzentas-douradas. Ali baixou de novo o Matias, de volta ao encolhido de querer ver de perto para saber, ali ficou em pé o avô, longe do banco, a olhar para a cabeça do neto e a ver-se a si naquele tufo de cabelo, naquelas mãos escondidas entre os dois joelhos, naqueles olhos muito abertos para o trabalho e para os dias das formigas.