(Foto de Inês Dias a ilustrar o poema de Joan Margarit.)
Diante dos brancos,
reluzentes, metálicos moinhos,
no ar tão limpo do inverno,
põe-se devagar o sol.
Penso no tempo em que não existiam.
Pouco a pouco compreendo que foram dias
de horizonte mais amplo. Hoje erguem-se
no seu lugar, brutais, estes moinhos
preparados para uma época difícil.
Aproximo-me de um deles: sinto a sua indiferença.
Acaricio o enorme mastro frio,
sinto o amanhã nessa poderosa
linguagem de foice que vai ceifando o ar
com grandes pás que, furiosas, giram
voltadas para o poente.
Como alguém que dissesse a verdade.