domingo, 15 de setembro de 2013

Ao vigésimo quarto domingo do tempo comum

O Reboliço pensa no Sorna, enquanto ouve a Luca chamar por ele, na sua voz forte, e o Petaner, atrás, com aquele gato na caixa de ar, que o faz emitir uns latidos roucos.
- Soooooorna! Onde é que estás, Sorna!?
- *cofcof*, Sorna, oh Sorna, *cofcofcof*
- Anda cá já, Soooorna!
- Luca. Ele já não volta. Escusas de gritar, de chamar, de latir e ladrar.
- Hum…?
- Não volta. Escuta: ele agora é nada mais do que a palavra aqui nestas linhas, sim? Como eu. Como a Carolina, a Perdida ou o Lobito.
A Luca, que ainda se espaventava e abanava a cabeça para todos os lados, a ver se via de onde falava o Reboliço, foi-se sentando. O Petaner repetia-lhe os gestos, a cauda sempre a abanar, como quem está, feliz, num jogo em que o deixaram entrar.
- Não volta, Reboliço…? Então e a comida que ali está e nem sequer me atrevi a roer? Não…? Mesmo?, de vez…?
- Isso. Foi embora e não voltará aqui. Palavra. É palavra.
A Luca sentiu que se lhe engrandecia uma gota de água na esquininha dos olhos. O Petaner, de língua pendurada e ar contente, olhava para ela, olhava para o Reboliço, e não percebia porque estavam tão sérios, se ele se sentia no céu da brincadeira.
A voz da Luca tremeu uma vez mais: "Soor…na." E, mal tinha começado a rolar, pouco a pouco, a gotícula, ouviu a voz encorpada que reconhecia, mas que agora vinha suspensa, de um lugar que era toda a parte:
- Chamaram?