sábado, 2 de novembro de 2013

Moinhos na poesia (51)

NOITE

Noite tranquila, cheia de mistério,
o universo inteiro faz-se mudo;
por trás da pedra do moinho,
só o regato não dorme, ensurdecido.

As sombras unem-se e aumentam,
a escuridão da noite se acentua.
Em silêncio, uma estrela, outra após
cai no mar da penumbra imensa.

Enquanto o mundo tudo silencia,
meu coração se agita em murmurinhos
e eu sinto a límpida nascente
que acorda em meu peito vitoriosa.

E segreda meu coração;
Filho, o teu sonho terá vida.
Veja, uma estrela rolou do alto,
creia, não é a estrela do teu fado.

A tua ainda brilha em seu engaste
no anel de astros lá tão longe.
Veja como pisca e tremeluz
enviando-te expectativa e ânimo.

E eu fixo a estrela no remoto céu
onde tudo é quietude interminável.
Mas para mim só existe um universo,
e este o sinto aqui, no próprio eu.


Haim Nachman Bialik (1873-1934), trad. J. Guinzsburg / Zulmira Ribeiro Tavares, in Rosa do Mundo, Lisboa, Assírio e Alvim, 2001, pp.1188 e 1189. Obrigada, Inês.