A um operário
A cizânia da vergonha
nesse toucado de espinhos.
Cravada junto ao retrato
de par secreto de amantes:
dois rapazes foragidos
no moinho solitário.
Entre oliveiras e pedra,
toutinegras ou pardal.
Alecrim, tomilho, murta:
carne solar de crioulo
roçando corpo trigueiro
- além da curva do monte.
E no verde manto de erva
- o alegre trevo do sexo.
Do par secreto de amantes,
ao moinho condenado
por uma folha, por verde
folha de trevo da sorte.
Entre lebres e furões
- asa de corvo no céu.
Dois rapazes amarrados
ao seu moinho de vento
- em noite de lua clara,
fora do mapa do mundo.
José António Almeida, Arco da Porta do Mar, Lisboa, &etc, 2013, pp. 65-66.