(Foto do animalejo frente à mão de M.: Reboliço, a analisar riscas e escalas)
"Disse-me um poeta moçambicano, que havia encontrado numa
ilha do Equador um camaleão que, anichando-se no ombro dos aedos quando bordam
no vento as ravinas da memória, segregam missangas para o enfeite das
raparigas. Residirá aqui a razão do que me pedem: que passeie pelo ombro dos
poetas com a vocação do refratário, ébrio nos mantos da miragem?
Há uma genealogia da mimesis que talvez tenha em Pico della Mirandola
o príncipe de uma nova dinastia. Para este florentino da Renascença o homem não
reflete passivamente o cosmos e investe na tutela do seu destino: já não admite uma essência pré-determinada, assume-se numa vontade de ser. Aqui se nutre a sua fascinante asserção de que o homem é um camaleão."
(António Cabrita, "O eco são todas as vozes", prefácio a
O Bosque Sagrado, realização: Jorge Sousa Braga, António
Ferreira, Álvaro Magalhães, Porto, Gota de Água, 1986, p. 11.)