segunda-feira, 14 de setembro de 2015

Moinhos na Poesia (72) / O Reboliço colecciona calendários (31)


A LUCIDEZ DE SANCHO PANÇA

Ainda hoje, ao encontrar um inimigo
de outrora, abominável assassino,
cumprimentei-o alegremente:
Olá, moinho de vento! Reconheço
agora a tua verdadeira natureza
e não te enfrento porque já não carrego
as armas e a loucura de um velho.
Funciona sempre, amigo, sê
o que verdadeiramente és: moinho
do amanhã, o que transforma a água
em fogo, o que torna leves e aprazíveis
estes nossos ares pestilentos.
(Daniel Francoy, Calendário, edições Artefacto, Lisboa, 48.)