terça-feira, 24 de janeiro de 2017

Fonte da Pipa

O Reboliço lembra-se da primeira vez que visitou os jardins e, por fora, o palácio da Fonte da Pipa. Ia no grupo da escola primária, com a sua Dona Antónia a comandar. O passeio teria sido por um Inverno como o de agora - além dos desenhos que se fizeram do palácio, teve de desenhar as flores das amendoeiras. Talvez por isso aquele palácio, tão fora da vila, tão excêntrico, sempre lhe estivesse associado, na ideia, ao que mais elementarmente, para si, definia o Algarve. Ardeu hoje de madrugada, com chamas de fogo. Morreu - ficou só paredes, sem as torres, sem os tectos pintados nem as colunas decoradas, as escadarias vastas, as janelas de muitos feitios, o sentido que faziam os muretes enfeitados com as cores dos cacos cerâmicos que, anos depois da visita inicial, lhe faziam lembrar os de um parque-jardim em Barcelona. Morreu, foi-se de vez, depois de há uns anos o terem meio escondido atrás de um longo muro de pedra, a bordejar a propriedade. Morrera já um pouco quando ao portão, distante da entrada uns 100 metros, lhe tinham estacionado dois gigantes de pedra que sussurravam a quem passasse "vai-te daqui." A vida do palácio eram os fantasmas que se dizia morarem ali e que hoje devem ter endoidecido, sem abrigo para assombrar.