domingo, 26 de março de 2017

Moinhos na Poesia (81)

Agora, é um ribeiro que nos acompanha e desaparece; muito embora numa fuga para trás, repetindo a verde, a branca estrada; logo, um vermelhar fumegante de telhado; viandantes que nos amaldiçoam; um cão, saltando, que arremete; mala-posta que passa, num turbilhão de poeira, furado de gestos humanos; galinhas esvoaçando; aquela presa de água, entre salgueiros; um velho perfil de moinho; uma junta de bois aterrorizada; um cavaleiro abraçado ao pescoço de uma égua que recua, aos corcovos, sobre a valeta; lavradores, curvados, no trabalho, férreas enxadas da pobreza reflectindo oiro, ao sol…
Teixeira de Pascoaes, A Beira (Num Relâmpago) / Duplo Passeio, Assírio e Alvim, p. 39. Pascoaes viajou num Isotta Fraschini entre São João de Gatão e Arganil, em Agosto de 1915. A emoção de correr, naqueles tempos, a 40km horários!