quinta-feira, 20 de abril de 2017

Moinhos na poesia (83)

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com os profetas dando às costas e aos desertos
síria não perdeu a fome
os estrangeiros que vieram     fosse de onde fosse
foi para que os de cá enfunassem mais tarde as caravelas
deitassem ao vento os moinhos de quixote
as invasões soltaram os predadores
para seguirem     de cristo ao peito     o trilho das especiarias
sem as malhas prateadas dos guerreiros médios
ei-los
que foram ao saque
à conquista do pavor dos conquistados
autos das barcas se fizeram aos mares com ouros na volta
e dos reinados     dos senhores reinadios     ficaram os castelos
e o eco das heráldicas
dos ourives ainda se fala e dos ornatos de manuel nos pelourinhos
as calçadas desaguando em naus flutuando com primor
entre os guinchos de cordame e papagaios
...

Abel Neves, Úsnea, Averno, 2015, 57.