terça-feira, 30 de janeiro de 2018

A filha-gata

(Foto da Perdida com a filha-gata no quintal: Prima Luísa, à pressa, à pressa, depois de o Tio Chico, seu pai, a ter chamado, "Anda cá ver isto, a gatinha mamando na Perdida." O Tio explica hoje: "Já não a apanhou a mamar, mas foi um instante de nada, entre a gatinha largar a mama e a Luísa fazer o retrato: não vês a posição dos bichos?" A Perdida era, como já se disse aqui, um bicho muito particular. Um dia, uma gata teve por ali crias e ela perfilhou-lhe uma: teve leite e tudo. Em chegando por lá o Isidro, que era visita regular e dado à brincadeira, metia-se com ela: "Eu levo-ta, Perdida. Fico-te com a gatinha." Parecia que o entendia, aquela mãe. Ficava possuída, ladrava-lhe com uma fúria que ninguém lhe conhecia e mordia-lhe os canos das botas altas, rosnando, enquanto ele avançava e ria, está claro. [Depois da morte da Perdida, foi o Isidro quem lhe recolheu a filhota.])