Lá atrás, há mais de quinze anos, vi um filme: Camille Claudel. Vi-o no Fórum Picoas (se me recordo bem) e no final saí da sala a correr, entrei no túnel do metro a correr, subi a correr a rua de escadas que sempre me deixavam sem fôlego a caminho de casa, subi as escadas de madeira do prédio, a correr, e entrei a correr em casa. A correr, para não dar tempo ao pensamento de parar e tentar entender as lágrimas. Corria para me esquecer depressa do que vira, para que não assentasse aquela poeira maldita entre as ideias que mantinha arrumadas.
Hoje vi um filme: Les Temps Qui Changent. Saí da sala à pressa, caminhei de passo apressado (em Lisboa, naquela altura, ninguém sabia quem era e não se supreenderiam nem reparariam numa pessoa a correr pelas ruas, pelo metro, pelas escadas; aqui, correr seria fazer exactamente o contrário do que queria e chamar a atenção de todos), meti à pressa a chave na porta do prédio, galguei então os degraus da escada de pedra e entrei de rompante em casa. Para ter de ouvir a respiração ofegante, para tornar audível em mim a perturbação dos pensamentos.