Quando pressente (ouve, vê, palpa, cheira) muito rebuliço à volta de qualquer coisa, mormente se é sobre cantiga ou livro, o Reboliço afasta-se. Gosta de deixar assentar a poeira. Mania de cão pequenino, medricas de ser atropelado pela turba. Em se afastando a gente, então sim: aproxima-se do fenómeno. Franze muito o focinho, a cheirar, a cheirar, mas ainda de olhos abertos e atentos, a tentar perceber o que levantou o ruído. Às vezes, porém, está ele ainda encolhidinho no seu canto, com este frio enroscado, de focinho escondido entre as pernas, a aguardar o desanuviamento, vem o fenómeno até si. Faz mover o ar à sua volta, perto o suficiente para o fazer erguer uma orelha, uma só. Se é fenómeno a sério, como a voz de alguém felino, há logo segunda orelha erguida, focinho desembainhado e espreguiçadela rápida. Corre, Reboliço. Vai lá ouvir o resto.
(Obrigada, António.)