quinta-feira, 8 de março de 2007

Filosofia canina

Comovido, o Reboliço recorda que um dos seus escritores favoritos o entenderia, se pudessem ter um tête-a-tête. Claro que faria mudar nele a opinião sobre a impertinência dos cães. Não os conhece a todos, é o que é. Mas um engano destes, tão comum em qualquer homem, não faz dele menor escritor.

"Vim pela Rua da Princesa [...] sem me dar de um cão que, ouvindo os meus passos na rua, latia de dentro de uma chácara. Não faltam cães atrás da gente, uns feios, outros bonitos, e todos impertinentes. Perto da Rua do Catete, o latido ia diminuindo, e então pareceu-me que me mandava este recado: 'Meu amigo, não lhe importe saber o motivo que me inspira este discurso; late-se como se morre, tudo é ofício de cães, e o cão do casal Aguiar latia também outrora; agora esquece, que é ofício de defunto.'"

(No belíssimo Memorial de Aires, entrada do dia 18 de Setembro [de 1888])