quarta-feira, 3 de setembro de 2008

Vão três (Preminger de novo)

.....1963 foi o ano em que Gregory Peck e Horton Foote receberam o Óscar pelo mesmo filme, To Kill a Mockingbird; foi o ano em que morreu o Papa João XXIII e em que Kennedy foi assassinado. Um ano turbulento, portanto. Mas foi precisamente nessa altura que Otto Preminger mostrou, em The Cardinal, o seu ponto de vista sobre assuntos tão quentes como a Igreja Católica, o racismo nos EUA, a intolerância generalizada entre classes, povos, ou o indivíduo perante si mesmo, a Lei Seca ou o Terceiro Reich. O filme teve seis nomeações para os Óscares (entre a de Melhor Realizador, a de Melhor Montagem e a da Melhor Actor Secundário, com John Huston a fazer o Cardeal Glennon, de Boston). Tal como nos dois que vi antes deste (recordar aqui), não há uma imagem que não seja lindíssima. Os enquadramentos são todos perfeitos - aliás, o genérico, de Saul Bass, anuncia a harmonia das cenas e a centralidade da personagem principal entre escadarias que sobe e que desce interminavelmente. A música é a mais justa possível, nunca um obstáculo, nunca em evidência demasiada. A intriga é cativante, do início até ao fim (e dura três horas, com um absurdo "Entr'Acte" a meio na edição DVD...).
.....Vi o filme no mesmo dia que o Mano me levou a visitar a Igreja de São Domingos, na paróquia de Santa Justa e Rufina, ao Rossio. O interior largo, aberto, as tonalidades que pude adivinhar de luz, mais as colunas em desagregação recordaram-se-me enquanto via as imagens de Preminger. Quando me deitei, fiz um mini-sonho (se fosse o Saul Bass, diria "um genérico de sonho"), uma espécie de trailer pós-filme. Está claro, não me consegui lembrar do que acontecia nele, mas falava do Cristianismo e terminava com uma gargalhada real que me despertou, de ruidosa.