terça-feira, 28 de julho de 2009

O Leitor

(Foto, de telemóvel: Reboliço no cinema. Numa das sessões de Verão que o Cineclube costuma fazer ao ar livre, com a tela no pátio e a máquina a projectar desde o andar de cima dos claustros do Museu Municipal de Faro. Ia todo lampeiro, pata ligeira, à espera de chegar lá e de se sentar descansado. Mas as circunstâncias ditaram de outra maneira, e viu-se, uma vez de muitas mais, a agarrar nas bobines, a sentir a fita, a passá-la pelo circuito todo das rodas dentadas, folga em frente à lâmpada da lente, tensão em frente à lâmpada de ler o som, aperta, fecha, folga no amortecedor antes da bobine vazia, e arranca a luz, o movimento, o trepidar do motor. Ainda pensou em sentar-se mesmo - mas, e se a fita saltasse, de um frame a outro? Não. Viu O Leitor ora em pé, debruçado sobre a amurada do claustro, ora sentado no chão a tentar fixar o olhar entre as grades para perder o menos possível da tela, ora de gatas ("De gatas, Reboliço?!"). No final, antes de as luzes do pátio se reacenderem, saiu de mansinho, pata ante pata. Não quis apagar dos olhos o céu escuro cheio das estrelas, das luzinhas dos aviões e do brilho dos pardais que passavam lá fora e faziam voar consigo a luz dos candeeiros da rua.)