domingo, 14 de abril de 2013

Um saco de lã

(O Reboliço olhou para a imagem e pensou: "Estou a olhar para um saco cheio de lã por cardar." Chegou à cozinha, sentiu o cheiro da lã, o cheiro hidratado da lã, e avançou até de onde o sentia. Tem o corpo baixo, precisou de subir o focinho e de baixar, com ele, o rebordo do saco. Espirrou uma vez, outra e terceira, depois de ter inspirado para farejar. Bastaram-lhe os três espirros. Regressou. Com uma das patinhas da frente baixou mais o rebordo e sacou para fora uma nuvem. Ficou o dia todo a olhar, a mexer-lhe, a cheirá-la, a brincar com ela. Sentada na cadeira pequenina, por baixo da janela por onde o sol entra, a mãe jogava a mão ao saco, puxava, mas para cima, para o colo, pedaços de lã, que ia abrindo com os dedos todos para fazer das mancheias grossas fiapos fininhos, sem impurezas, quase diáfanos. Depois dava-os à fronha de linho, aberta ao lado, que haveria de fechar para formar uma almofada. Foto das nuvens no céu: @macguffinevora. Obrigada.)